segunda-feira, 16 de novembro de 2009

~* Fingir

Parece crueldade, mas desde pequenos apendemos que, se não quisermos sofrer mais ainda, devemos esconder nossas fraquezas. Por que quando deixamos escapar alguma coisa, isso poderá ser usado contra nós. As vezes é só a piada que incomoda, o comentário que magoa, o olhar que fere. As vezes é algo mais planejado, feito pra machucar. O fato é que você deve se adequar, parecer sempre feliz. E isso não é de todo o ruim. Quando fingimos para os outros, fingimos também para nós mesmos, e isso nos dá força provinda de algum lugar, mesmo quando não parece haver de onde. Quando escondemos o que nos incomoda, acabamos também por esquecer daquilo por um momento. Podem me falar de sensibilidade até meus ouvidos caírem, mas o fato é que ninguém quer ser visto como fraco, ou dramático, ou qualquer um desses adjetivos que as pessoas falam sem pensar. Por isso trancamos o objeto de nossa dor no fundo de trinta baús e escondemos atrás do nosso sorriso despreocupado. E funciona, muito bem. O problema é que ninguém consegue viver na mentira o tempo todo, ninguém consegue fingir pra todo mundo e pra si mesmo a todo instante. E é aí que achamos alguém. Alguém que na despretenção se faz tão importante em nossas vidas. Aquele alguém com quem tiramos as máscaras, revelamos nossa dor, choramos, rimos, chingamos. Aquela pessoa que aos poucos vai se tornando essencial em nossas vidas, com quem nos sentimos livres, sem máscaras, sem disfarces. Aquele ou aquela que gostam da gente simplesmente por sermos nós, que nos transmitem paz, confiança, tranquilidade. E tudo, então, parece passar. Toda a dor e a toda a raiva começam a não fazer mais sentido, e não nos lembramos mais por quê de todo o nervosismo. Nosso corpo parece mais leve, assim como nossa mente, e podemos dormir tranquilos, rir de algo bobo ou dançar pelos corredores da casa. Por que a raiva é mais intensa que o amor, não precisa de motivo concreto, vem forte e avassaladora de dentro do coração, toma nossa mente com agilidade e nos faz querer gritar. Mas com a mesma rapidez que vem, pode ir embora. Com a mesma eficiência que toma a nossa mente pode se dissipar. O amor, por outro lado, é insistente, constante, divino. Tráz consigo toda a paz e a alegria que não precisam de justificativa, simplesmente existem. E por mais que a raiva nos cegue por alguns instantes, o amor se faz presente em todos os demais sentidos. Aquela nuvem de angústia se dissolve como uma gota de nanquim no oceano, e o que vemos em nossa frente é aquele alguém. As palavras podem não ser suficientes ou eficientes na hora de expressar o sentimento. O título de amigo, namorado, irmão passa a não valer mais o quanto deveria. O que fazer pra retribuir tudo o que o que nos foi feito? Nos sentimos impotentes. Mas nos esforçamos ao máximo para ser melhores para aquela pessoa, e nos tornamos melhores de fato. Só espero que esse alguém saiba de toda a sua importância, e não ache, nunca, que precise fingir pra mim.

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